Sobre as diferenças – Judith Butler
- Bianca Módolo
- 13 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
Os acontecimentos sociais não param de nos surpreender com tantas demonstrações de intolerância nas relações com o “outro” em nosso dia-a-dia. Mas hoje, quero me deter ao que me parece um retorno à Idade Média, momento em que a “caça às bruxas” estava autorizada.
É impactante a força necessária que se deve ter para expor uma linha de pensamento, uma visão de mundo. Ao que me parece é o que vem experienciando a filósofa estadunidense Judith Butler (61).
Com influências de Michel Foucault, Simone de Beauvoir, Sigmund Freud, entre outras grandes referências teóricas dos últimos séculos, a pensadora tem encontrado oposição social e cultural por onde passa devido aos seus estudos, trabalhos e posicionamento perante a vida.
Tal oposição, se dá devido as garantias oferecidas por um lugar social já conhecido e que se sustenta nos ideais de certo e errado, bonito e feio, céu e inferno, adequado e inadequado, rico e pobre entre outros. Refere-se a um espaço onde há vaga para as certezas.
Em detrimento de um marcado posicionamento a respeito de questões atuais, como gênero (através da teoria queer), política (Israel / Palestina), educação e ética, Judith vem sendo incompreendida por parte da parcela da população que se calca nas garantias sociais, e que tende a não se envolver com a falência dos sistemas sociais vigentes como a heteronormatividade e outras formas de liberdade, compreendendo como libertinagem.

Divulgação
Fica evidente a sua proposta de considerar tudo aquilo que escapa de um olhar ordenado, legal e regulamentado, o que explica tanta contestação. Dificilmente seria diferente. É motivo de inquietação para os opositores, propostas que abarquem salientes diferenças de suas compreensões de mundo e de homem, o que justifica tamanho barulho com a presença de Judith no Brasil. Entendo que possa ser sentida como muito ameaçadora a presença dela em território nacional.
Observo, o quanto ainda é difícil aceitar aquilo que é diferente de nós mesmos, assim como as diversas formas de expressão do pensamento, sentimento e comportamento. Estas são formas de manifestação do humano, e sendo assim, porque não haveria de ser? Parece que Judith Butler tem sido um ícone representativo das possibilidades que fogem da normatividade, e na mesma medida que é apreciada pelos acadêmicos, teóricos e de uma maneira geral por pessoas libertas das amarras sociais e culturais, também tem sido objeto de repúdio daqueles que se sentem mais seguros relacionados com as questões sociais estatutárias.
Na palestra que escolhi aqui relacionar (Angela Davis e Judith Butler em conversa sobre a desigualdade), podemos perceber o empenho necessário para se fazer valer aquilo que se pensa. Percebemos a árdua tentativa feita por Judith Butler, Angela Davis e a mediadora do encontro, para que pessoas interessadas na participação do evento que fossem portadoras de algum tipo de necessidades especiais, pudessem tem acesso à participação do mesmo.
Fica evidente a batalha travada para se fazer valer justamente aquilo que elas estavam se propondo a discorrer naquela oportunidade! Para encerrar, gostaria de refletir aqui sobre o que me parece mais importante, que diz respeito ao posicionamento realizado diante das situações adversas apresentadas no transcorrer da vida, e nem tanto o resultado advindo deste mesmo posicionamento.
Neste mesmo sentido, me parece que é o que foi possível e de tamanha importância o que Judith e Angela realizarem na situação que pode-se observar no vídeo da palestra de ambas. Mesmo que elas não tiveram sucesso em suas intenções de acolher as pessoas interessadas na participação do evento, o discurso realizado e a discussão feita apresentaram algum tipo de possibilidade e abertura para esta percepção tão evidente e da mesma forma tão pouco olhada.



Comentários